Introdução*

Criei este blog com o intuito de auxiliar quem precise destes "apontamentos" acerca da sociedade industrial e urbana, no século XIX.
Este foi um trabalho realizado no âmbito da disciplina de História, pedido pelo professor João Sancho.

A Explosão Populacional*

No século XIX, sobretudo na Europa, ocorreu um enorme e acelerado crescimento populacional, o que alterou bastante os comportamentos e o regime demográfico. Teve, também, consequências a nível mundial através dos fortes fluxos emigratórios.

Demógrafos e historiadores utilizaram a expressão explosão demográfica para designar o intenso e rápido crescimento populacional no séc.XIX. Esta explosão demográfica deveu-se, sobretudo, à queda da taxa de mortalidade.
A Europa detinha a supremacia demográfica e as maiores densidades populacionais, o que levou a que o ritmo de crescimento das populações europeias fosse o mais elevado de todos os e se iniciasse mais cedo. É certo que outras regiões, nomeadamente as do continente americano, conheceram taxas de crescimento iguais ou superiores às da Europa. Contudo, o crescimento demográfico da Europa foi ainda o mais prodigioso.


A Expansão Urbana*


O século XIX foi o século do crescimento urbano: as cidades cresceram a um ritmo muito superior ao das outras regiões, provocando o aparecimento de gigantescas aglomerações populacionais. O rápido crescimento urbano é atribuído a vários fatores como:
  •  Ao maior crescimento natural das suas populações;
  • Às alterações económicas e sociais provocadas pela industrialização;
  •  À imigração vinda das zonas rurais circundantes: os salários das indústrias e o emprego nos serviços eram um forte atrativo;
  •  À imigração estrangeira: as grandes cidades dos países mais ricos funcionaram como pólos de atração para a mão-de-obra excedentária dos países mais pobres;
  • Ao fascínio que as modernidades e comodidades da vida citadina exerciam sobre a população.

O Novo Urbanismo*

O rápido crescimento económico e populacional das cidades transformou os espaços urbanos e alterou a vida citadina de modo quase caótico. Os primeiros problemas foram: a falta de espaço e de habitação. Desenvolveu-se por isso a construção em altura, substituindo as velhas mansões familiares da burguesia por prédios de rendimento. As classes mais pobres e as recém-chegadas ocuparam os subúrbios ou arredores da cidade, onde os bairros novos se desenvolveram devido à proximidade das fábricas ou centrais de transporte (ferroviário ou rodoviário). Erguidos à pressa, os novos bairros refletiam todas as carências:
  •          Deficiente construção em série, descaracterizada e monótona;
  •        Sem conforto nem estética;
  •          Ruas sem pavimento, lamacentas e imundas;
  •          Ausência de esgotos, saneamento e iluminação pública.

 Aos problemas com a habitação vieram somar-se os problemas de circulação de, para e dentro da cidade. Com efeito, o alargamento do espaço urbano impôs e desenvolveu os transportes públicos.
 A aglomeração populacional nas cidades levou, também, a problemas de abastecimento como:
- de bens alimentares, cuja distribuição passou a ser feita através de grande mercados centrais;
- de água, cujo alto consumo exigiu novos sistemas de captação, tratamento e distribuição;
- de combustíveis, como o carvão, o gás e o petróleo, usados na iluminação e aquecimento.


Mas a sobrelotação citadina trouxe, principalmente, problemas de saneamento e de saúde pública, assim como, problemas sociais e psicológicos causados pelas más condições de vida e miséria. Estes problemas fizeram nascer nas cidades, pelos finais do séc.XIX, uma nova disciplina social- o urbanismo-, cujo objetivo era a organização planeada da área habitável das cidades, de modo a resolver, de forma eficaz e agradável, os problemas gerados.
Foram norteadas assim as primeiras grandes reparações de renovação urbana, sobretudo nos bairros centrais:
  • Novas vias e grandes praças;
  • Fundamentos do saneamento urbano;
  • As ruas foram pavimentadas e possuíam iluminação (primeiramente, a gás e depois a eletricidade);
  • Grandes edifícios em pedra.












O centro urbano tornou-se, então, no espaço exclusivo do poder económico e político.
Os bairros operários foram, sem dúvida, os mais carenciados: erguidos nas zonas industriais, envoltos no fumo das fábricas; possuíam habitações pequenas, mal divididas e insalubres.

Fluxos Migratórios*

A Europa foi o continente que registou maior mobilidade populacional, favorecido por múltiplos fatores (crescimento demográfico, transformações económicas, progressos nos transportes terrestres e marítimos), este dinamismo migratório europeu teve consequências importantes a nível interno e mundial:
- provocou grandes alterações na geografia humana,
- favoreceu os encontros étnicos e culturais;
- exerceu fortes influências no desenvolvimento económico e sociocultural das regiões.

As principais correntes migratórias internas da época foram: as migrações regionais e o êxodo rural em direção aos centros urbanos.
A migração para as grandes cidades foi, normalmente, uma migração definitiva e envolveu sobretudo as camadas jovens e daí as suas implicações: diminuição da população rural, decadência da agricultura, envelhecimento da população camponesa e atraso do mundo rural.


Emigração*


A Europa conheceu importantes movimentos migratórios entre as suas nações, motivados pelos desníveis económicos e pelas crises de desenvolvimento ou por guerras e instabilidades políticas:
a) entre os vários países europeus. b) para fora da Europa.





A emigração europeia refletia estímulos novos:
  • O apelo lançado pelos governos europeus para o povoamento e desenvolvimento económico das suas áreas coloniais;
  • A propaganda levada a efeito pelos novos países além-Atlântico;
  • E o fascínio exercido pelos progressos económicos dos novos países americanos.




A Condição Burguesa*


A burguesia do séc.XIX percorreu diversos caminhos para obter êxito individual:
1) A carreira das armas: meio tradicional e aristocrático para alcançar posição e fortuna;
2) Os estudos, para adquirir as competências necessárias ao desempenho de certas funções como:
    - o funcionalismo público e privado;
    - o professorado, sobretudo o primário;
    - o sacerdócio (forma de obter prestígio social e enriquecer).
3) Os negócios, que garantiam um rendimento maior e mais rápido;
4) O desenvolvimento sociocultural: no séc.XIX, começa-se a perceber que, através das artes, do jornalismo e da política, se obtém grande prestígio social.

Incremento das Classes Médias*


Alguns historiadores dividem as classes médias em dois grupos:
1) O da média burguesia: composto pelos pequenos patrões de empresas, os profissionais liberais e o alto funcionalismo dos chefes de escritório;
2) O da pequena burguesia: a quem pertenciam os lojistas e outros pequenos comerciantes, os mestres de ofícios, os empregados bancários e do comércio. A sua situação era menos desafogada, rondando, por vezes, o nível da pobreza.

As classes médias aumentaram extraordinariamente o seu número, durante o séc.XIX, devido:
  • Ao crescimento natural da população;
  • Ao desenvolvimento técnico dos meios e processos de produção agrícola e industrial;
  • Ao alargamento dos setores administrativos das grandes empresas industriais e comerciais (classes médias);
  • À modernização e à complexidade dos aparelhos administrativos dos Estados, e à complexificação dos serviços (sector terciário).



Valores e Comportamentos*


O sucesso do liberalismo político e económico traduziu-se no sucesso da burguesia, que viu legislados e institucionalizados os seus ideais:
  • Políticos: os da democracia parlamentar e representativa;
  • Sociais: os de uma sociedade sem privilégios de nascimento ou função;
  • Comportamentais: a consciência do mérito próprio e da competência pessoal.

Assim, o modo de vida burguês (individualismo liberal) sobrepôs-se ao da aristocracia, generalizando-se na imagem divulgada do self-made man (homem que se faz a si próprio) e apoiado no esforço individual. A exaltação do trabalho e da poupança como meio de alcançar o êxito individual e o progresso geral transformou-se num dos pilares básicos do séc.XIX.

A alta burguesia tinha um estilo de vida sumptuoso:
- morava em belas residências apalaçadas, ajardinadas e mobiladas com luxo;
- possuía propriedades;
- preocupava-se com a reputação e a aparência: vestia-se com elegância, de acordo com a moda;
- era metódica e organizada, tanto nos negócios como na vida quotidiana;
- possuía uma vida familiar e social sofisticada: fornecia aos filhos uma educação superior;
- organizava grandes recepções e bailes; e viajava com frequência;
- ostentava, em casa, grandes bibliotecas, colecionava obras de arte, antiguidades e objetos exóticos (os quais foram obtidos nas múltiplas viagens feitas);
- fazia doações para obras de caridade (filantropia).







O Conservadorismo das Classes Médias*


A maioria da burguesia por uma condição de nascimento e de vida, defendia os valores e as virtudes da burguesia tradicional. Foi em torno deste rígido conservadorismo social que as classes médias se uniram, procurando criar uma consciência de classe própria.
A burguesia passou a adotar uma atitude mais conservadora e puritana:
  • O quotidiano era dividido entre o trabalho e a família;
  • O respeito pela família era de grande importância;
  • Tinha uma moral rígida;
  • Dava grande importância à opinião pública;
  • Tinha respeito pela hierarquia do dinheiro e do poder.


A Condição Operária*


O liberalismo político e o avanço do capitalismo e da industrialização criaram um novo grupo social- o proletariado, que é uma condição económica e social, não uma condição profissional.
A procura de trabalho era tão grande que os salários ficara cada vez mais baixos, mal chegando para a sobrevivência dos operários. Isto levou às famílias operárias a recorrerem ao trabalho de todos os seus membros capazes. Aproveitando-se deste facto, os patrões empregavam mais mulheres e crianças, pois o salário era mais baixo que o dos homens.
Trabalho infantil
As condições de trabalho eram inumanas: trabalhavam em espaços insalubres, frios e húmidos, mal iluminados e mal arejados; e as pausas permitidas eram poucas. Estas más condições cansavam e desmotivavam os operários. Relativamente às condições de habitabilidade: os compartimentos eram pequenos e escuros; a privacidade entre a família era inexistente; poucas eram as vezes em que tinham fornecimento direto de água, gás, iluminação ou aquecimento; e as instalações sanitárias eram colocadas no exterior dos apartamentos.
As más condições de vida e de trabalho levaram à degradação das relações familiares: o casal maltratava-se, esquecendo as responsabilidades perante os filhos, o que levou estes últimos a perderem o respeito pelos pais.
Começaram então a existir vários vícios como:
  • O alcoolismo, a prostituição, a vagabundagem e mendicidade, a marginalidade e o crime.


Isolados, os operários pouco puderam fazer contra a progressiva degradação das suas condições de trabalho e contra a descida salarial.
A miséria operária transformou-se na principal questão social do séc.XIX, originando ações particulares e individualizadas.

Mutualidades e Cooperativas*


As limitações impostas ao operariado (proibição de associação, imposição da caderneta de trabalho, etc.) não impediram a sobrevivência, entre eles, de certas formas de mutualismo e solidariedade. Tais como:
1) As caixas mutuárias: associações sustentadas pelas quotas dos seus associados, a quem prestavam assistência e entreajuda em caso de doença, desemprego ou acidentes de trabalhos;
2) As cooperativas: proteção dos interesses comuns pela eliminação da concorrência.

Luta Operária e Sindicalismo*


Embora muito divulgados, o mutualismo e o cooperativismo não abrangeram todos os operários. Organizaram-se grupos de operários em seitas secretas que atacavam as fábricas e oficinas, destruindo as instalações e as máquinas. Noutros casos, recusavam-se coletivamente ao trabalhando, iniciando as greves.
Estas ações representavam um grave atentado à propriedade privada e eram, então, duramente reprimidas e perseguidas.
O agravamento das condições económico-sociais fez alastrar estes movimentos operários. Apoiada por novas ideologias sociais, a classe operária criou uma forma mais organizada de luta: os sindicatos.
Mas os sindicatos, até ao início do séc.XX, ostentaram grandes fragilidades no que diz respeito ao seu poder de reivindicação e organização. Contudo, foi atrás da luta sindical- feita de greves, manifestações e negociações coletivas- que os operários se uniram e tomaram consciência de si, enquanto classe, e obtiveram as suas primeiras vitórias na defesa dos seus direitos relativamente às condições de trabalho e de vida.
Assim, as principais vitórias dos sindicatos foram:
  • Direito à negociação de contratos coletivos de trabalho (melhores horários, descansos semanais, férias e assistência);
  • Direito à higiene nos locais de trabalho;
  • Nascimento do sistema de segurança social (apoio económico e proteção aos trabalhadores);
  • Regulamentação do direito à greve;
  • Aparecimento das primeiras leis de proteção ao trabalho feminino e infantil.


A formação da Associação Internacional de Trabalhadores (AIT), que promoveu debates importantes em torno da resolução do problema operário, tornou públicas as suas reivindicações:
    - dando voz à luta pela conquista do direito ao voto;
    - reclamando o reconhecimento legal dos sindicatos;
    - promovendo a formação e oficialização dos partidos operários.

Foi sob a influência da Internacional Operária que se concretizaram as primeiras aspirações operárias: extensão da franquia eleitoral, moderação da lei sobre as relações patrões-operários, oficialização dos sindicatos e dos partidos operários.
Os progressos do movimento operário internacional justificam, também, a grande manifestação do dia 1º de Maio de 1890, em prol da jornada de trabalho de oito horas, seguramente uma das primeiras grandes vitórias do sindicalismo.

1º de Maio de 1890


A Sociedade de Classes*

As transformações político-económicas ocorridas na Europa, ao longo do séc.XIX, alteraram profundamente as estruturas sociais. O liberalismo político aboliu, de vez, os antigos estatutos das ordens; acabou com os privilégios de nascimento e reconheceu a igualdade jurídica de todos perante a lei: direito ao voto, soberania popular, liberdade dos partidos políticos e funcionamento tripartido dos órgãos de soberania. Estas medidas deram origem a uma sociedade mais flexível e dinâmica, onde todos os cargos e todas as funções estavam abertos aos cidadãos que o merecessem. Ficaram, assim, criadas as condições para a mobilidade social que caracterizou a organização das sociedades burguesas e capitalistas, ditas sociedades de classes. 

Conclusão*

Espero, sinceramente, que quem ver este blog se sinta satisfeito com as informações disponibilizadas.